Havia uma enooooorme expectativa para o nosso primeiro dia na neve. As crianças contavam os segundos para verem a bendita e esplendorosa brancura da Cordilheira dos Andes, o que para nós é uma novidade, pois, via de regra, não neva no Brasil (neste ano nevou, e muito, só para me contradizer... Mas só na cidades da Serra Gaúcha).
Para mim havia uma baita expectativa no ar, pois iria fazer minha primeira aula de esqui! Era a única do grupo que queria se aventurar.
Compramos o passeio pela Touristour, que incluía a visita a Farellones e a minha aula no Valle Nevado. O José, nosso motorista, e o Alexis, nosso guia, explicaram que tínhamos que alugar as roupas apropriadas, o que fizemos logo antes de começarmos a subir a Cordilheira. Para as crianças, macacões impermeáveis; para os adultos, calças e botinas.
Durante o caminho, o Alexis tocou diversas músicas da MPB em sua flauta, o que nos fez relaxar um monte. E aproveitar a paisagem, bastante diferente do nosso dia-a-dia.
Quando chegamos em Farellones, fomos direto ao Tubbing, uma espécie de esquibunda, para comprarmos os ingressos e agendarmos o horário. Tudo certo, comprado e agendado, seguimos eu, o José e o Alexis para o Valle Nevado, para que eu pudesse, finalmente, debutar no mundo do esqui.
Nós nos separamos porque os outros integrantes do nosso grupo familiar não teriam o que fazer no Valle Nevado enquanto eu estivesse aprendendo a esquiar. Eles não teriam acesso ao hotel e nem à neve, o que frustraria as crianças (grandes e pequenas).
No caminho, optamos por cancelar a minha aula e voltarmos para Farellones, onde eu também poderia tener una clase de esqui. Assim, chegamos ao Valle Nevado e logo retornamos a Farellones. O valor da aula foi corretamente creditado no meu cartão de crédito pela agência.
Enquanto isso, a galera se divertiu muito no tubbing. Valentina ficou com medo no início, mas logo depois aproveitou muito.
De volta a Farellones, encarei uma baita fila para me inscrever na aula de esqui. Havia uma única pessoa para preencher os formulários (que deveriam ser muitos) e outra para cobrar. Fiquei uma hora na fila e andei poucos metros. E me dei conta de que Farellones não está preparado para bem receber o turista...
Neste meio tempo, José tentou encontrar a minha turma e não conseguiu. Depois do episódio que contei aqui, sempre que nos separávamos, conferíamos os telefones celulares e nem eu estava conseguindo falar com eles, pois a diversão deles era grande. Mas sabia que tínhamos reserva no restaurante e que todos estariam lá na hora marcada, afinal de contas, Farellones é um vilarejo.
Depois de uma hora na fila e de muitos brasileiros ao redor, vi uma moça saindo da pista com sintomas de fratura. Comecei a pensar em tudo: o cancelamento do Valle Nevado, a demora na fila, o fato de estar ali sozinha, só com o guia, enquanto o resto do pessoal se divertia, a moça do braço quebrado... Quando o Alexis voltou, já era hora de irmos ao restaurante. Olhei para ele e disse decidida: - Chega! Não quero mais! Sabe-se lá que horas vou ser atendida e que horas vou conseguir fazer a bendita aula! Vamos encontrar o pessoal! Quero acreditar que foram sinais de que aquele não era o melhor momento para aprender a esquiar... Ponto (mais uma vez) para a minha intuição!
Depois de uma almoço chinfrim e caro no restaurante Farellones, o mesmo que almoçamos da outra vez, fomos para um campo de neve, na beira da estrada, onde os chilenos vão. Eles são chamados de 'farofeiros da neve', pois vão para fazer piquenique e passar o dia. Tem um cara que aluga pranchinha, outro que aluga não sei o quê, outro que vende bebidas, e assim vão se enfileirando os carros na beira da estrada. E eu, que adoro uma farofa, não aguentei. Levei todo mundo para esse lugar. Ficamos ali cerca de duas horas. As duas horas mais divertidas da viagem inteira!
Fizemos o nosso boneco de neve...
... encontramos este outro pronto (e muito mais lindo que o nosso!)
A Valentina literalmente rolou na neve (devia ter uns 30 a 50cm de neve por ali) e eu enchi a térmica do chimarrão com neve...
Fizemos nevar para aparecer nas fotos, só não fizemos chover... mas faltou pouco! O dia estava lindo, céu azul contrastando com o branco da neve. O dia perfeito! Estava até calor! Dava para ficar de mangas curtas, inclusive, pois não tinha vento. E a gaúcha aqui se encheu de roupas, porque tem medo de passar frio... Abandonei até as luvas e cogitei de ficar de camiseta, tal o calor!
No fim, depois de muita guerra de neve e diversão, a nossa bandeira foi hasteada mais uma vez em solo chileno. E as lembranças desse dia ficarão na nossa memória para sempre. Essas duas horas valeram todo o investimento que fizemos naquele passeio.
Viva Chile!
Antes de terminar o post, acho importante comentar sobre o mal da montanha, que sempre me pega de jeito, especialmente no Chile, porque se sobe muito rápido. O meu maior sintoma é a dor de cabeça, que é muito forte. Ano passado, fui ao Peru (contei aqui) e descobri que se toma cafiaspirina. Antes de viajar, levei a Valentina ao pediatra dela para saber o que poderia dar a ela, caso sentisse algum dos sintomas e ele receitou a metade da minha dose, ou seja, meio comprimido (ela tem 8 anos). Eu levei sempre comigo. Ela não sentiu nada, mas o primo precisou tomar.
Chi-Chi-Chi-le-le-le, VIVA CHILE!