domingo, 6 de fevereiro de 2022

A saga da escola para a Valen

 

Quando decidimos que viríamos todos para a Espanha, decidimos, também, que iríamos fazer de tudo para que a Valen pudesse estudar em uma escola secundária normal e pública daqui. O que não esperávamos é que o processo burocrático fosse tão... burocrático! 

Bem, em primeiro lugar, pedimos vaga num Instituto de Enseñanza Secundária - IES - que ficava dobrando a esquina de casa, pois iríamos ficar naquele bairro por, pelo menos, três meses. Formulário preenchido e entregue, era preciso aguardar um telefonema da escola. 

Dois ou três dias depois, deu toda a confusão do apartamento, como contei aqui e aqui. Como mudamos de bairro, a escola de referência também mudou. E o processo começou todo de novo.

Bem, no dia em que fomos no 'Ayuntamiento' (prefeitura) para fazer o 'empadronamiento' (registro de residência), a dona do nosso novo apartamento nos levou no Instituto em que a filha dela estuda, o IES Ramon Carande. E lá, conversando, começamos todo o processo de novo: preenche o formulário, aguarda o contato, etc.

No dia seguinte recebi uma ligação da Consejería de Educación solicitando a convalidação dos documentos da Valen para poder dar continuidade ao processo. A pessoa com quem falei me passou o endereço e no dia seguinte eu fui lá na Plaza España. Cheguei no lugar e a historia começou: precisa de 'cita previa' (agendamento), porque sem 'cita' ninguém entra, me disse o porteiro. Quando lhe expliquei a situação, ele me disse que não era ali e, sim, na outra porta, um cartório para fazer a convalidação dos documentos.

Fui na outra porta, falei com o porteiro, expliquei a situação. O que ele me respondeu? Não é aqui, é na outra porta, indicando que era o local onde eu estava antes. E mais: me disse que era para eu entrar, subir e que o porteiro não sabia de nada. E que se ele reclamasse era para eu dizer que eu queria fazer uma reclamação por escrito na tal da 'hoja de reclamación'.

Voltei. Claro que o porteiro se emputeceu. Tentei falar com o Jaime, porque ele tinha ficado com os telefones de contato da Carmen no celular dele. Óbvio, não consegui. E comecei a pensar em estratégias.

O segurança saiu para a rua para fumar e, já um pouco mais calmo, me explicou o que funcionava ali e o que eu precisava era, de fato, no outro lugar. Bem, lá fui eu de novo.

Nesse meio tempo, a Valen me disse que era só eu olhar as chamadas recebidas que eu teria acesso ao número de origem da ligação do dia anterior, algo que eu não havia me dado conta naquele momento, pois já estava furiosa. Feito. Consegui contato. A pessoa que me atendeu foi muito pacenciosa, explicou tudo de novo e me confirmou que era na segunda porta que eu tinha que ir. 

Enquanto eu falava ao telefone, o segurança da primeira porta foi até o segurança da segunda porta e bateu boca com ele. E voltou. Quando eu fui lá, o cara estava puto comigo, porque o outro tinha vindo ali brigar com ele. 

Bem, com toda a calma lhe disse que eu tinha mantido contato com o setor que tinha me mandado ali e que era ali que eu precisava apresentar os documentos para a tal da convalidação. Aí ele se acalmou e me deu toda a atenção do mundo, porque, claro, eu poderia usar a 'hoja de reclamación' contra ele, né?

Daí veio o próximo problema: precisava de que? de 'cita previa'. E, claro, eu não tinha. Ele me mostrou o QR code usado para acessar o link. Entrei no sistema ali mesmo para ver se conseguia uma data. Obviamente, não havia 'cita' disponível nem para aquele dia e nem para os próximos. 

Aí fui conversar com ele de novo. Mostrar para ele que não tinha data disponível e tal e chegou uma moça, pedindo desculpas e perguntando algo para ele e dizendo que faltava dois minutos e tal para o horário dela, e ele olhou para ela e disse: espera que eu estou atendendo esta senhora aqui e se virou para mim e seguiu falando comigo. A moça tentou entrar e ele não autorizou, ela tentou argumentar, ele impediu ela de entrar outra vez, tendo ela se afastado. Ele olhou para mim e disse: viste como ela é mal educada? E seguiu me explicando que o sistema atualiza todos os dias às 14h, que era para eu seguir tentando. Com a maior calma do mundo.

Bueno, saímos dali da Plaza España eu e a Valen meio sem rumo. Quando foi de tarde, consegui uma 'cita' para a segunda-feira. Isso era quinta. Vibrei!

Na segunda, no horário, fomos todos lá. Entrei para ser atendida e... não pude convalidar os documentos, porque eu tinha que levar eles em cópia e gravados em pdf, bem como tinha que pagar uma taxa e tal. Perguntei que documentos eu tinha que apresentar e a pessoa me disse que não sabia, que era na Consejería que eu ia saber que documentos eram. E que seu eu conseguisse fazer tudo dentro de uma hora, ele me atenderia naquele mesmo dia.

Saímos dali, estávamos todos, novamente sem rumo. Como na terça eu tive a reunião com meu orientador, o Jaime assumiu a bronca. Ele foi até na Cruz Vermelha, porque eu tinha uma informação que eles ajudavam os estrangeiros com estas questões. Que nada! Não podiam fazer nada nesse caso. Mas sugeriram que o Jaime fosse direto da Consejería de Educación. Ele tanto fuçou na internet que marcou uma cita com a pessoa da Consejería que havia me ligado. Lá ele descobriu os documentos que tinha que apresentar e mais: descobriu que teríamos que traduzir os documentos oficiais da escola para daí poder fazer a tal convalidação. 

Começamos a buscar tradutor oficial de documentos por aqui. Quando estávamos já sem saber, a dona do apartamento fez contato, para saber se a Valen já estava em aula, se estava gostando, etc. Comentei com ela a situação e ela me passou o contato de um escritório de tradução de Madri. Mandei e-mail na mesma hora.

No dia seguinte, bem cedinho, chegou a resposta. Mandei os documentos. Veio o orçamento: 100 euros. Mandei fazer. Isso já era sexta-feira, de novo. A Valen já tinha perdido duas semanas de aula, pois o segundo semestre deles aqui começou dia 10 de janeiro. Nesse meio tempo, me ligam  para me dizer que a vaga no primeiro IES estava garantida. Aí eu explico a situação, que havíamos trocado de endereço, que tínhamos solicitado vaga em outra escola e que aquele pedido não nos interessava mais. Disse que estávamos tratando com a Carmen, da Consejería, tendo a pessoa me dito que ia conversar com a Carmen, sua colega, para anular esse pedido e manter a tramitação para o IES Ramon Carande.

Na quinta, 27 de janeiro de 2021, decidi matricular a Valen em uma escola de intercâmbio de espanhol (Sevilla Habla), lá no centro histórico. Pensei: até que vai documento, traduz, volta, apresenta, convalida, ela vai ficar mais umas duas semanas sem fazer nada e essa situação, de ela ficar perambulando sem rumo pelas ruas, já estava me deixando agoniada.

Fomos na escola, contratei 3 semanas de intercâmbio, a começar no dia 31 de janeiro. Assim, pelo menos à tarde, ela teria um compromisso, iria conhecer gente, praticar espanhol, enfim, aproveitar o tempo. A ideia era inscrever ela no centro de idiomas da Universidade de Sevilha, que fica aqui do lado de casa, cuja prova de nivelamento será dia 17 de fevereiro. Pensei: ela dá um up no espanhol e depois faz um quadrimestre aqui na US e está tudo bem.

Qual a minha surpresa no dia seguinte? Recebi uma ligação do IES Ramon Carande para ir lá pegar a ficha de matrícula dela naquele mesmo dia. E ela poderia começar na terça, dia 1º de fevereiro. No horário marcado, estávamos eu e o Jaime lá. Conversamos com a professora, tiramos nossas dúvidas, ela nos explicou o funcionamento da escola e do curso, que será tema do próximo post. E no final me disse: ela pode começar na segunda, mesmo. Daí às 11h tu vens entregar os documentos (sim, porque a secretaria só funciona entre 11h e 13h!).

Bem, pensei: ela vai estudar o dia inteiro por três semanas: das 8h às 14h30min no IES e, depois, das 15h às 18h30 no Sevilla Habla. Em um lugar, vai conviver com pessoas da idade dela e nativas e, no outro, com estrangeiros do mundo todo. A questão é que ela leva quase uma hora andando de um lugar até o outro. Avisei o intercâmbio da nova situação e tudo certo.

E a semana começou nesse ritmo: ela indo para o IES de manhã, até às 14h30min. Depois ela vai até a US, onde eu estou, come algo, e segue para o intercâmbio. Puxado? Sim, mas ela está curtindo. E aproveitando bastante.

Ah, mas a saga ainda não terminou! De posse dos documentos traduzidos e daqueles indicados, o Jaime voltou ao local da convalidação. E lá foi dado início ao processo de convalidação, então. O que isso significa?  Eles vão analisar o currículo brasileiro e vão comparar com o espanhol e daí vão dizer em que nível ela está, se no ensino obrigatório ou no bachillerato. Esse resultado ainda não saiu, mas o que importa é que ela já está na escola! 

E, provavelmente, teremos que traduzir os documentos daqui para português na volta... Fazer o quê? A ver...