O grupo Viagens em Família do Facebook confirma a existência de vida inteligente nas redes sociais. Não é à toa que ajudamos diariamente vários viajantes com suas famílias a se deslocarem pelo mundo para curtirem suas férias.
Ano passado, fizemos três blogagens coletivas, em que um tema é proposto e todos aqueles que possuem blogue (e até os que não os possuem podem escrever, pois foi criado até o blogue dos sem blogue) escrevem sobre o tema. Você pode ler as postagens aqui, aqui e aqui.
E o primeiro desafio de 2014 está no ar. A Adriana Pasello, do blogue Diário de Viagem sugeriu o tema mudanças necessárias para as famílias viajarem mais pelo Brasil. E aqui estamos nós para darmos o nosso ponto de vista.
1) Segurança:
A cada ano que passa, mais aumentam as estatísticas de crimes violentos no nosso País. Não há um final de semana que não se contabilize muitas mortes violentas em diversas cidades que são destinos turísticos. E aqui não computamos os que não são, ficando à margem das referidas estatísticas. E quando eu falo em morte violenta me refiro a acidentes de trânsito e a homicídios.
Que segurança vamos ter de levar nossas famílias para lugares que temos de estar atentos o tempo todo, sempre alerta? Não que em outros lugares do mundo podemos relaxar acerca desses cuidados, claro que não! Mas aqui o nível é alerta máximo.
Estive uma vez no Pelourinho. Achei lindo e até gostaria de voltar. Mas não tenho coragem de levar a minha filha, por exemplo. E a questão é exatamente essa: não me senti segura em nenhum momento, nem vendo vários guardas por ali. E o assédio para vender traquitanas é tanto que enche o saco! Baixar a guarda? Nem pensar!
Lembro de uma mulher que literalmente pegou minha mão e amarrou uma fitinha, mesmo eu dizendo que não queria, porque já tinha uma. Depois, pediu dinheiro e ainda me ameaçou caso eu não desse nada a ela! É esse o tipo de abordagem do turista que queremos?
E se é para sair de casa e se estressar, fico em casa, que já conheço bem meus estresses!
E se é para sair de casa e se estressar, fico em casa, que já conheço bem meus estresses!
2) Transporte Público de Qualidade:
Prefiro, sim, viajar ao exterior quando penso nesse quesito. Em Paris, sequer pensei em pegar um táxi. O metrô me levou a todos os lugares a que eu queria ir. E o que mais me chamou a atenção foram os cartazes dentro do trem que indicam as estações (geralmente sobre as portas) e logo abaixo a atração turística que era acessível por tal estação. Para andar por lá, basta conhecer as cores e 'acolherar' as letras, como se diz aqui pelo sul! Não precisa conhecer nada de francês!
Ano passado estive na Itália. Elegi o norte para uma primeira viagem, como contei aqui. E somente alugamos um carro porque queríamos nos embretar nos recantos da Toscana que não são acessíveis de trem. E viajamos muito bem, sempre de segunda classe, com trens pontuais e limpos. Chegamos a andar a 300 km para irmos de Veneza a Roma e de Florença a Milão! Poucas horas para vencer muitos quilômetros. E sem congestionamento!
Aqui no Brasil, o transporte público é deficiente e caótico. Em Porto Alegre há uma linha de metrô, que liga a região metropolitana à capital. E só. Dentro de Porto Alegre você tem que se virar de ônibus urbanos, por vezes lotados e sucateados, ou de lotação (micro-ônibus) ou de táxi, cuja frota é insuficiente para atender a população em um dia comum de chuva... Sextas e sábados à noite, então, chame seu táxi com muita antecedência... Perdi um casamento porque o táxi demorou mais de 40 min para me buscar e me levar à cerimônia...
No Rio de Janeiro, a maior cidade turística do País, existem apenas duas linhas de metrô!!!! Elam abrangem muito pouco de uma cidade enorme! Pelo menos os taxistas - os que peguei - foram muito gentis e durante o trajeto foram nos mostrando os pontos turísticos.
3) Estradas:
Em não havendo transporte público condizente, restam estradas lotadas de veículos! Semana passada eu fui a Porto Alegre e na chegada havia um engarrafamento (óbvio, pois a estrada que 4 pistas passa para 2 em um piscar de olhos). Olhando para o interior dos carros, verifiquei que em cada carro havia uma pessoa, sendo raros os carros com duas pessoas dentro. Ora, se o transporte público é ineficiente, todo mundo vai de carro ao trabalho. E as rodovias não foram planejadas para a quantia de veículos que hoje existe! E a cada ano, mais carros zeros são vendidos, batendo recordes atrás de recordes. O resultado é este: engarrafamentos enormes que nos tomam horas do dia para chegarmos ao trabalho e, ao final do dia, em casa.
As condições das estradas também são precárias. Aqui no RS, pelo menos, à exceção da BR-101, que liga Porto Alegre ao Litoral Norte, não há estradas boas. Há algumas obras de duplicação que já estão nascendo defasadas. Ou seja, nada vai mudar mesmo!
As rodovias são esburacadas, sem acostamento seguro, sem sinalização, seja ela horizontal ou vertical. Pagou-se pedágio durante um tempo (preço abusivo, claro) e até tivemos estradas boas. Agora, aquelas estradas que eram pedagiadas não mais o são. Na primeira semana apareceram as primeiras crateras.
E por falar em crateras, lembro de uma época em que a BR-287 era completamente esburacada e que cheguei a levar 3h para percorrer 140 km... Os buracos da estrada chegavam ao meio dos pneus. Como andar assim?
4) Educação:
Começo falando da educação no trânsito. Não há! Não há obediência à (já precária) sinalização das estradas no tocante à velocidade. Há muitos motoristas que fazem manobras arriscadas e que, por vezes, ceifam as vidas de famílias inteiras, que estava indo ou vindo. Sair para a estrada hoje para um passeio é um risco muito grande. Sair em feriadões, um risco um tanto maior! Tenho preferido gastar meus feriados em casa mesmo, pois a gente sai e reza para voltar para casa sem um arranhão!
Educação para o cuidado com o patrimônio público. Se é público, não é de ninguém, posso estragar. Errado! Se é público é para eu usar e para os outros usarem também. Não vejo essa preocupação aqui no Brasil! O negócio é destruir, não interessa o motivo.
No atendimento ao público, em geral, não vejo maiores problemas de educação. Falta, isso sim, um incentivo para que todos que trabalhem com público, especialmente turista, falem um segundo idioma.
5) Hospedagens:
Os preços dos hoteis brasileiros são altos. Ou você arca com esse custo, ou você procura soluções alternativas, como alugar um apartamento/flat, que vai sair mais em conta.
No Nordeste você vai do resort - caríssimo! - para as pousadas simplérrimas. Você escolhe! Ou o seu bolso escolhe a melhor opção. Mas não vá para uma pousada esperando o luxo dos resorts. É tudo muito básico. Inclusive o café da manhã.
6) Preços abusivos:
Viajar no Brasil é muito, mas muito caro! E se considerar que temos um calendário escolar, cujas férias são em janeiro e julho, a regrar as nossas vidas, para viajarmos em família acabamos reféns de estratosféricas tarifas, pois altas já são normalmente. Ainda mais em ano de Copa do Mundo, cujos preços estão um tanto mais elevados!
Tenho preferido ir ao exterior do que ao Nordeste, por exemplo, exatamente por isso! Porque a viagem acaba saindo bem mais em conta, mesmo gastando em dólares ou euros.
7) Banheiros limpos:
Seja na beira das estradas, seja nos aeroportos e rodoviárias para se conseguir banheiros limpos, há de se acertar na loteria. Em alguns lugares, como na rodoviária de Porto Alegre, há que se pagar por um banheiro razoavelmente limpo; em outros, nem pagando!
Em Paris há diversos banheiros públicos espalhados pelas ruas, especialmente próximo a pontos turísticos. E são limpíssimos. Aqui quando se tem um, é imundo. Em praças e parquinhos para as crianças, quando existem, não dá para encarar: ou estão imundos, ou estão destruídos! (E aqui voltamos para o quesito educação!)
8) Placas, mapas e demais sinalizações:
Outro quesito importante. Para onde vamos? Por onde vamos? Não há placas em português, sequer em outros idiomas, o que, com a Copa do Mundo, até foi agilizado um pouco.
Não há mapas turísticos. Não há investimentos neste setor!
Certa vez, vim de Salvador a Porto Alegre de carro, pelo litoral. Em certos momentos a estrada simplesmente acabava e não havia sequer indicação para que lado deveria seguir. Ah, naquela época não havia GPS... Eu dependia das placas, efetivamente. Mas onde elas estavam, que não estavam ali para (me) orientar?
9) Aeroportos:
Outro problema! São subdimensionados para o público atual. Viajar de avião agora é para muitos, ao contrário de antigamente, em que só os mais abonados podiam se deslocar por este meio de transporte.
Porto Alegre não possui equipamento que facilita decolagem e aterrissagem quando não há teto. E de agora até o final da primavera diariamente há problemas de teto no Salgado Filho. Resultado: voos atrasados. O tal do equipamento está sendo prometido há vários anos, mas emperra na burocracia.
Ademais, a pista é pequena e somente aviões de porte médio conseguem utilizá-lo. Assim, obrigatoriamente temos que fazer conexões no centro do País.
A malha aeroviária também é deficitária. E inexistem companhias low cost.
10) Falta de cuidado com Patrimônio Cultural:
Temos tanta história no nosso País e temos tantos prédios e até cidades preservadas por sua importância histórico-cultural. Mas não há investimentos suficientes para a manutenção deste patrimônio.
Assim, o turista até quer visitar, mas a estrutura é tão precária, a conservação é tão inexistente, a fachada está tão descuidada, que a impressão que fica é a de um povo desleixado. Saí com essa impressão de Olinda, agora há poucos dias!
E que impressão terão nossos filhos ao verem que o patrimônio cultural não é cuidado, ao passo que nós os ensinamos a preservá-los exatamente por sua importância histórica?
Nosso País é enorme. Possui atrativos para todos os gostos e para todas as idades. Mas faltam investimentos pesados nesse setor para que se desenvolva melhor. Enquanto isso, optamos por viajar ao exterior porque lá encontramos as condições que gostaríamos de encontrar aqui e não as temos. Certo ou errado, não sei. Mas há que se fazer o suado dinheiro reservado para as férias renderem bem rendido. E enquanto houver essa comparação, a viagem haverá de ser para fora.
Ademais, a imagem que é vendida ao exterior passa por estereótipos: carnaval, samba, mulata, bunda, turismo sexual, contrabando de animais, etc. Na nossa fachada está escrito: aqui tudo é permitido! E não pode ser assim! Sei que há voos charters provenientes da Europa com finalidade puramente sexual em cidades nordestinas (e acho que nem só nordestinas, infelizmente!).
Há que se conscientizar a população da importância do turismo para o país. Há que se conscientizar os políticos para que mais investimentos sejam feitos nesse setor, a fim de incentivar o brasileiro a conhecer seu próprio país, ao invés de preferir desbravar terras estranhas.
Antes de me aventurar por outros países, andei muito aqui dentro. E gosto de conhecer lugares novos na minha terra, mas está cada vez mais difícil de se fazer isso! Há muito o que mudar. E tudo passa pela necessidade de mais investimentos no setor turístico.
Há muito mais o que escrever. Outras opiniões você lê nos seguintes blogues:
1. Adriana Pasello - Diário de Viagem:
2. Claudia Boemmels - Brasileiros mundo afora
3. Flávia Peixoto - Viajar é tudo de bom!
4. Claudia Rodrigues - Felipe, o pequeno viajante
5. Andreza Trivillin - Andreza Dica e Indica Disney
6. Thyl Guerra - Viajando com Palavras
7. Eder Rezende - Quatro Cantos do Mundo
8. Ana Luiza Fragoso - Oxente Menina
9. Adelia Lundberg - Paris des Petits
10. Débora Galizia - Viajando em familia
11. Márcia Tanikawa - Os Caminhantes Ogrotur
12. Karen Schubert Reimer - As Aventuras da Ellerim Viajante
13. Thiago Cesar Busarello - Vida de Turista
14- Regeane Nicaretta- Dicas da Rege
15 - Debora Godoy Segnini - Gosto e Pronto
16- Erica Piros Kovacs - Viagem com Gêmeos
17 - Francine Agnoletto - Viagens que Sonhamos
18 - Sut-Mie Guibert- Viajando com Pimpolhos:
19 - Ana Cintia Cassab Heilborn - Travel Book Blog
20 - Flávia Maciel - Bebê Pelo Mundo
21 - Claudia Bins - Mosaicos do Sul
22 - Patrícia Tabalipa - Roteiro Baby Floripa
23 - Patrícia Papp - Coisas de Mãe
24 - Susana Spotti - Viagem Simplesmente
25 - Andrea e Luciano - Malas e Panelas
26- Patricia Longo Tayão - Viajar hei