O começo de tudo
Desde que comecei na pós-graduação, ouço falar no mestrado/doutorado sanduíche. Em 2017 e 2018 vim à Espanha para apresentar trabalhos em eventos na Universidade de Sevilha. E ficou aquele gostinho de 'quero mais'. Aliás, foi num desses eventos que defini o tema central da minha tese de doutorado.
De lá para cá, com o apoio da família, comecei a atender aos trâmites legais (que não são poucos e nem simples): com o edital da mobilidade internacional no ar, eu me inscrevi, fui selecionada e minha inscrição foi homologada pela Univates. Decidimos que eu pediria o tempo máximo de afastamento, ou seja, cinco meses, e que viríamos todos.
Bem, uma vez vencida a etapa do edital de mobilidade, seguimos para a autorização de afastamento do trabalho. Para quem ainda não sabe, sou promotora de justiça no RS e preciso apresentar um monte de documentos para poder me afastar para estudar, algo que é incentivado pela Instituição, a fim de que seus membros e servidores busquem novos conhecimentos. Autorização na mão, próximo passo: o visto no Consulado Espanhol.
Junta todos os documentos (que não são poucos), preenche formulários, pede 'cita', apresenta documentos, confere o link 50 vezes por dia até que tens a resposta: 'resuelto'. Ou seja, já tem uma decisão sobre o teu pedido de visto, que pode ser positiva ou negativa. E para saber, só indo lá. Visto garantido com sucesso!
Prepara tudo! Organiza tudo do trabalho, da casa, do que vai, do que fica, da escola, do escritório. Chega o dia.
A primeira tentativa
Faltando três dias para o embarque (previsto para 06 de fevereiro de 2021), a fronteira fechou por conta da pandemia do novo coronavírus. Só poderiam viajar para a Espanha os espanhois, os europeus e os residentes na Espanha ou em Andorra. Tranquilo, pensei. Meu visto é de 180 dias, logo, tenho autorização para viajar. Ledo engano. Faltando 24h para o nosso embarque, recebo a notícia de que não tinha autorização para entrar no país e que viajar para cá (escrevo este post diretamente de Madri) era um risco meu. Era preciso agir rapidamente, para não perder o dinheiro do aluguel, do seguro-saúde, das passagens... Decidimos não correr o risco e não embarcamos.
As decisões sobre a manutenção do fechamento das fronteiras pelo governo espanhol eram quinzenais. E de quinze em quinze dias, esperamos a fronteira abrir até agosto. Apenas em 24 de agosto deste ano a fronteira reabriu. E ainda cheia de regras. Meu visto havia vencido em 19 de agosto. Era preciso recomeçar.
Confesso que foram dias e meses muito difíceis. Embora todos me dissessem que foi melhor assim, era difícil de segurar a frustração.
A segunda oportunidade
Com a fronteira aberta, a maratona recomeçou. Primeiro, a carta de aceitação da Universidade daqui, já que a decisão da mobilidade ainda era válida. Com esses documentos, nova autorização de afastamento (na verdade, somente a definição da nova data, que, igualmente, deveria ser aprovada pela Instituição).
Deferido o afastamento, novo visto. Chegou o dia da aplicação do visto e nós fomos informados pelo Consulado de que o sistema estava fora do ar havia uma semana, sem previsão de volta e que, por isso, não poderiam ficar com os nossos documentos lá. Isso era 24 de novembro e nós tínhamos decidido marcar a passagem mesmo assim, sem o visto aprovado ainda, pois, afinal de contas, já o havíamos obtido.
Como era uma espécie de 'renovação' do visto, o consulado não cobrou a taxa e, por isso, podia receber nossos documentos nessa data. Mas o pedido só entrou para o sistema dia 02 de dezembro! Passou mais uma semana e nada. E as passagens marcadas para o dia 19 de dezembro. Estratégias à parte, no dia 13 recebo a informação de que meu novo visto estava 'resuelto'. Tinha quase certeza de que era positivo, mas no dia seguinte fomos ao Consulado para ter a certeza disso. Saímos de lá com ele na mão, ou melhor, no passaporte.
Mas tinha outro problema: o visto de estudante somente me autorizava a entrar na Espanha dia 27 de dezembro e nós chegariamos dia 20. O Consulado não nos orientava a vir antes do dia 27, mas decidimos vir mesmo assim. Na pior das hipóteses, teríamos que entrar com o visto de turismo, sair da União Europeia uns dias e voltar para validar o visto de estudante.
Faltavam cinco dias para o embarque e tinha tudo por fazer. Ainda mais sendo essa a última semana de trabalho do ano. Não foi fácil! E ainda toda a tensão da variante ômicron causando muito estrago aqui na Europa.
O embarque
Com a questão da Covid-19, as regras estão muito rígidas. Para embarcar para a Espanha é preciso esquema vacinal completo, mais um código fornecido por um aplicativo do governo, que deve ser apresentado na entrada do país. Se não tem vacina, é preciso fazer o PCR para embarcar.
Em Porto Alegre, ficamos mais 4h na fila do check-in! Nosso voo atrasou e foi muito cansativo. Já em SP, pudemos relaxar um pouco na sala vip da Latam, que usamos pela primeira vez e achamos que valeu a pena, pois a conexão era longa.
Em Poa conferiram nossos passaportes, nossas passagens, nossas vacinas e perguntaram pelo código QR. Não nos foi solicitado o PCR.
Em SP, confirmei que não precisava fazer PCR, porque tínhamos o esquema vacinal completo. Mesmo assim, já no embarque, houve nova conferência dos documentos, do cartão de vacina e do QR code. Estando tudo ok, as passagens ganharam um selo para poder embarcar.
A viagem e a chegada na Espanha
O voo foi muito tranquilo. Foi o voo que mais dormimos. Em nove horas, chegávamos a Madri. Daí a saga começou outra vez.
Com a pasta dos documentos nas mãos, certificados de vacina, QR code e passaportes, fomos para fila da imigração. Estávamos esperando que orientações íamos receber para regularizar o nosso visto. O policial perguntou o que viemos fazer e lhe disse que era para o meu doutoramento junto à Universidade de Sevilha e ele puxou assunto, dizendo que também tinha feito doutorado em criminologia, perguntou minha área e eu lhe expliquei. Ele simplesmente carimbou o passaporte, não olhou nada, não pediu nada e desejou boa sorte e boas festas. Enfim, entramos com o visto até junho!
Depois de pegarmos o famoso trem de Barajas para trocar de terminal, mais uma fila. Agora a do controle sanitário. Hora de mostrar o QR code. Como a Valentina ainda é menor, precisei mostrar para outra pessoa, que nos foi indicada, o seu certificado de vacina, devidamente impresso em espanhol, e o passaporte. Tudo aprovado, seguimos para pegar as malas.
De Barajas até Atocha
Com as malas nas mãos, saímos de Barajas, compramos o ticket da Renfe para Atocha. Cerca de 40 minutos depois, desenbarcávamos em Atocha e nos dirigíamos para o apartamento previamente alugado.
Agora, sim, vamos curtir uma semana de 'vacaciones' por Madri e cercanias. E depois seguiremos rumo a Sevilha.
Vou seguir contando tudo por aqui. Mas atualizações mesmo será pelo instagram, pela minha conta, pela conta do Jaime e pela conta da Valentina, que está contando essa experiência pelo seu olhar.
Vem conosco!
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