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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Mérida

 




Mérida é a capital da Comunidade Autônoma da Estremadura, sendo um dos maiores territórios do país. Em 2019, possuía cerca de 60mil habitantes. Consta que a cidade foi fundada como colônia romana em 25 a.C., por ordem do Imperador Otávio Augusto. Seu nome romano era, portanto, Augusta Emerita. Por estar dotada com todas as comodidades de uma grande urbe romana, foi a capital romana da Lusitânia desde a sua fundação.


Com as invasões bárbaras, a partir do século IV, Mérida continuou a ser uma importante cidade do Reino Visigótico, tendo sido sua capital, até que Toledo tomou esse posto. No ano 713, invasores muçulmanos conquistaram Mérida, transformando-a na capital da Cora de Mérida. Os moçárabes emeritenses rebelaram-se contra o Califado no século IX, tendo a cidade ingressado numa fase de declínio.



Mérida foi reconquistada pelas tropas cristãs de Afonso IX de Leão, em 1230. Em 1983, foi designada como capital da comunidade autônoma da Estremadura. Em 1993, foi declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, devido à sua importância histórica e monumental.


Nossa visita à Mérida, neste momento, foi rápida. Tínhamos que sair do hotel, em Cáceres, antes das 11h da manhã e somente poderíamos entrar no apartamento alugado em Sevilha depois das 15h. Ou seja, precisávamos fazer um tempo, já que a viagem não chegava a 300km. Decidimos, então, conhecer, ainda que parcialmente, Mérida, que fica no caminho. Aliás, não comentei no post anterior, a partir de Cáceres e até Sevilha, viajamos pela Ruta de la Plata, que ainda vamos explorar mais nos próximos meses.



Então, numa pesquisa rápida, elegi 4 pontos de visitação: o anfiteatro e o teatro romano, o templo de Diana, o alcázar e a ponte romana. A ideia não era entrar nesses pontos, mas apenas passar pela frente e ter uma noção da cidade, para, em outro momento, voltar. Ocorre que quando chegamos lá, decidimos pagar o ingresso (12 euros para mim, 6 euros para a Valen - por ser estudante e ter apresentado a carteirinha internacional emitida pela ISIC) para visitar as ruínas. O Jaime decidiu fazer o seu próprio passeio. Eu e a Valen entramos e nunca mais saimos de lá de dentro!


No anfiteatro, construído com cimento, eram realizadas as lutas entre gladiadores,  entre animais ou entre homens e animais. Foi inaugurado no 8 a.C. Nos extremos do eixo menor, que mede 41,2m, foram construídas duas tribunas, sendo que a do lado oeste era reservada para as autoridades e a do lado leste para quem financiava o espetáculo. O eixo maior mede 64,5m. Ao redor do anfiteatro, havia uma calçada que o circundava por completo. 



Era na arena, de forma elíptica, onde se desenvolvia o espetáculo. No centro foi escavada uma fossa e seu uso, provavelmente, era para o armazenamento das jaulas dos animais e de material cênico. Os combates em pares ou em grupo costumavam realizar-se à tarde. Era habitual que um árbitro e o seu ajudante fizessem cumprir as regras da luta através do uso da vara, no caso de ser necessário.


A música era outro elemento fundamental para marcar as fases do espetáculo, que começava com um duelo entre dois ginetes a cavalo, para depois combaterem em duelo, segundo armas e experiência.


Duas largas galerias permitiam, além do acesso à arquibancada, que foi construída aproveitando o desnível da colina, a entrada dos gladiadores à arena. segundo historiadores. O acesso principal ao anfiteatro era por onde saía, também, o gladiador vencedor. No anfiteatro, mulheres e homens podiam sentar juntos e, por ordem do imperador, as bancadas mais altas eram destinadas aos escravos e pobres.



 No anfiteatro, usado entre o século I e IV, os gladiadores prisioneiros de guerra, escravos e delinquentes eram condenados a  lutar na arena, embora alguns homens livres elegiam lutar como forma de viver. Interessante, também, eram os tipos de gladiadores.


O gladiador desafiante é um SECUTOR, pois espera iniciar o combate. Um capacete protege sua cabeça dos golpes. A lança, o grande escudo, a caneleira (espinillera) e as placas de metal que cobrem o braço completam as armas que melhor o identificavam. 


O RETIARIO se identifica pela rede que lançava atrapanhando o oponente, sendo que a recuperava graças à corda presa às suas mãos. O braço que utilizava para manejar esta arma era protegido com tiras de telas e pedaços de couro sobre os quais atava placas metálicas, que chegavam a cobrir o ombro e o pescoço. Era o único gladiador que não usava capacete. Suas armas lembravam a atuação de um pescador e não de um soldado.

O MURMILLO se esconde atrás de seu escudo retangular e ataca apenas para dar o golpe final. Ele se diferenciava por sua espada, escudo e pelas proteções dos braços e das pernas. Um grande capacete cobría sua cara. Ele somente enxergava de frente, por pequenos orifícios.

Os gladiadores se formavam numa escola, chamada Ludus. Ali treinavam e viviam junto à sua família até sua liberação ou morte. A vida média de um gladiador era de 27 anos. No século I, o imperador Augusto proibiu a morte na arena, o que foi levantado pelos imperadores seguintes. A luta entre gladiadores premiava a habilidade nos movimentos e a força, mas eram frequentes os golpes, cortes e ferimentos que deformavam com cicatrizes o corpo e o rosto dos lutadores. A alimentação era à base de cevada, feijões e carne, para render mais. Infusões com cinzas de ossos e madeira ajudavam a fortalecer os ossos. Nas noites anteriores aos combates, era oferecido aos lutadores um jantar especial e abundante. A deusa Nêmesis era a protetora dos gladiadores.



Logo ao lado do anfiteatro, está o Teatro Romano, que foi mandado construir pelo cônsul Marco Vipsanio Agripa, tendo sido inaugurado entre os anos de 16-15 a.C. É um dos mais relevantes monumentos da cidade e, desde 1933, alberga o Festival do Teatro Clássico. Está composto por um terraço com capacidade para 6 mil espectadores, divididos em três setores, de acordo com a divisão social vigente na época, sendo que os espaços na frente do palco era reservado para senadores e magistrados. As partes mais altas eram reservadas para os escravos e para as mulheres, que não podiam se sentar com os homens.







Bem, essa visita foi uma aula sobre o Império Romano. Ficamos todo o tempo possível dentro desse sítio arqueológico, que está muito bem preservado. Mérida, aliás, é considerada a mais romana das cidades espanholas. Certamente voltaremos para ver o que ainda temos para ver. E o Jaime? Ele me disse que foi conhecer o estádio de futebol, a loja do time local e a Plaza de Toros. Quando ele voltou, estávamos prontas. Comemos algo e seguimos para Sevilha.


Olhando numa escala geracional, nós somos as futuras gerações dos que habitavam essa região e que lutaram nessa arena. E que lindo é poder pisar o mesmo chão, sentar na mesma arquibancada, entender um pouquinho como era a vida nessa tão longínqua época. E nós, estamos sendo um bom ancestral com o nosso patrimônio histórico para que as futuras gerações possam, também, um dia desfrutar disso tudo? Nós temos o dever de entregar a elas o patrimônio que recebemos e o que construímos.


Até o próximo post!

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Trujillo



Trujillo é uma pequena cidade medieval, com cerca de 655km² e 10.000 habitantes. Integra o rol das Aldeias mais bonitas da Espanha. E não é para menos. A cidade está muito bem preservada e guarda restos prá-históricos e pré-romanos, denominados Turgalium, mas também foi habitada por romanos, suevos, visigodos e muçulmanos. Após 5 séculos, foi conquistada por Alfonso VIII em 1186. Alguns anos mais tarde, voltou a ser de dominação amóada, sendo reconquistada em janeiro de 1232, por Fernando III, tendo recebido o título de cidade em 1430 do rei Juan II. 

Aqui nasceu Francisco Pizarro, invasor do Peru Inca, e Francisco de Orellana. Ambos descobriram o rio Amazonas. Como tínhamos apenas algumas horas, selecionei dois lugares para visitar: o Castillo de Trujillo e a Casa Museu de Francisco Pizarro. De resto, caminhar pela cidade. 





Castelo de Trujillo

O castelo fica na parte mais alta da cidade e foi construído no século XIII sobre uma antiga fortaleza árabe dos séculos IX ou X. Conserva as torres quadradas, que são típicas da arquitetura militar islâmica. Está totalmente construído em alvenaria e argamassa. É possivel fazer a volta inteira por sobre a muralha. O ingresso custou 2 euros.





Casa Museo Francisco Pizarro

Visitei a casa muito rapidamente em razão do horário. Entrei nos últimos 10 minutos possíveis. Aqui na Espanha é normal os lugares fecharem às 14h e só reabrirem perto das 17h. Como tínhamos que voltar para Cáceres para visitar o museu, entrei mesmo assim e passei os olhos pela coleção e história desse que é considerado pelos espanhois como conquistador, mas pelos peruanos como invasor. Como sempre, há os dois lados da história. A casa que abriga o museu foi de seu avô e há objetos, móveis e documentos de Pizarro. Na parte de baixo, o local onde passou sua infância e juventude; na de cima, a história dele. Não há fotos, porque não é permitido. Na Plaza Mayor está a estátua em sua homenagem e indica que morreu em decorrência de ferimentos sofridos em combate (uma pata erguida).






Nesse dia, nós acabamos nos perdendo. Eu segui meu roteiro, enquanto o Jaime e a Valen seguiram os seus destinos. Nós nos encontramos no final, aqui na Plaza Mayor e decidimos voltar para Cáceres para visitar o museu.



sábado, 1 de janeiro de 2022

Cáceres


 

Cáceres foi fundada pelos romanos no século I a.C. Depois, no século V d.C, foi tomada pelos visigodos e arrasada. Passado algum tempo, os muçulmanos construíram uma base militar com o objetivo de enfrentar os cristãos vindos do norte durante a época da Reconquista. A denominação árabe mais provável de Cáceres é Al Qazrix.


A cidade foi murada apenas no século XII, devido ao avanço dos cristãos. Mas o Rei Afonso XII tomou a cidade em 23 de abril de 1229, dia de São Jorge, patrono da cidade. Após a retomada, houve a reconstrução da cidade sobre as bases já existentes. Cáceres é hoje um dos sítios históricos mais preservados do mundo.

Arco de la Estrella


O Centro Histórico foi declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1986, sob o nome Cidade Antiga de Cáceres. Aqui foram rodados filmes e séries, tais como Game of Thrones (7ª temporada); Isabel; Teresa, el cuerpo de Cristo; Romeu e Julieta, etc.

Cáceres possui cerca de 30Km² e está a 500m sobre o nível do mar. Possui mais de 90.000 habitantes.


Montei um roteiro mínimo (baseado nos filmes e séries que foram gravados aqui) a partir do sítio da municipalidade, que é muito completo, diga-se de passagem. Com o auxílio do Google Maps - ou não - fomos descobrindo a cidade antiga bem ao nosso gosto: nos perdendo e nos achando. Por vezes todos juntos, por outras, separados. Resultado: caminhamos o dia inteiro e ainda não vimos tudo.


Plaza de Santa María

Na Praça de Santa María está a igreja de mesmo nome e, na frente, o Palácio Episcopal. Aqui, antigamente, era a sede do foro romano. Após a reconquista, tornou-se o centro nevrálgico de Cáceres, sendo que em frente à porta da igreja se reunia o Conselho Municipal para a tomada das decisões mais importantes, inclusive sobre a aplicação de penas.


Sede do bispado


Plaza de San Pablo

Nesta praça estão o palácio e a Torre de las Cigüeñas e uma pequena igreja que, atualmente, pertence ao Convento da Ordem de Santa Clara. As irmãs desta ordem produzem doces, que podem ser adquiridos aí. No dia em que visitamos a praça, estava fechado, mas comprei doces das Monjas Jerónimas. Achei bem bons!

 
 

A compra e venda dos doces é feita sem contato visual


A Torre de las Cigüeñas é mais alta que os demais prédios ao redor. Conta-se que a Rainha Isabel, a Católica, mandou destruir as demais torres já existentes, menos essa, que data do século XV.


Casa e Torre de las Cigüeñas


Plaza de San Mateo

A Igreja de San Mateo data de princípios do século XVI, mas sua construção, sobre a antiga mesquita, somente foi concluída no século XVIII, sendo considerada a mais antiga da cidade. Na frente da igreja está a Plaza de San Mateo. Na segunda foto, já se vê, ao fundo, a Plaza San Pablo.







Plaza de San Jorge

Esta praça surge com a restauração que foi levada a efeito entre os anos 1965 e 1966, com a eliminação de uma fonte pública que aí havia. Aqui se destaca a escada que dá acesso à Igreja de San Francisco Javier, de estilo barroco, e ao colégio da Companhia de Jesus. Ao lado, visitamos o Jardim de Cristina de Ulloa. No centro da praça, há uma imagem de São Jorge, o padroeiro da cidade, em razão da data da sua reconquista, dia 23 de abril de 1229. A imagem é obra do escultor Jesús Rodriguez Aranda. 





Plaza de las Veletas

A Plaza de las Veletas está na parte mais alta da cidade monumental e, não, eu não tenho uma foto dela. A única foto em que ela aparece, de longe, é esta, tirada a partir da Plaza de San Pablo. Também não tenho foto da frente do Museu de Cáceres (Palácio de las Veletas), que abriga o mais preservado Aljibe Hispano-Musulmán da Espanha e um dos melhores do mundo (cisterna). Mas o que importa é que visitamos ambos os lugares. O museu ocupa, também, a Casa de los Caballos, abrigando uma singela coleção de belas artes, com destaque para uma obra de Greco, a Jesús Salvador, datada de 1612, que chegou a ser roubada do museu, há mais de 40 anos.

A Plaza de las Veletas está na frente do prédio branco ao fundo. Atrás da igreja que aqui aparece, está o museu de Cáceres.


Arco de la Estrella

O Arco de la Estrella é a porta principal de entrada da cidade monumental de Cáceres, unindo a Plaza Mayor com a Plaza de Santa María, dois pontos importantes da cidade. Tem estilo barroco e foi construída por Manuel de Larra Churriguera no século XVIII sobre uma construção do século XV. O arco é largo para facilitar a passagem das carruagens. Pelo lado interno do muro, há uma imagem da Virgem de la Estrella, protetora dos viajantes. 

Aqui é possível subir na muralha, visitar um centro de informações, subir em suas torres e visitar achados arqueológicos romanos. O ingresso pode ser combinado, ainda, com o Baluarte de los Pozos.




Sítio romano

Plaza Mayor vista desde a Torre do Bujaco (complexo Arco de la Estrella)


Vista da cidade desde a muralha


Baluarte de los Pozos - ainda em escavação

Os poços eram a fonte de água da localidade


Quiosco de la música

Foi um dos cenários do filme Planos para o Amanhã, de 2010, dirigido por Juana Macías e interpretada por Goya Toledo, Carme Elpias e Ana Labordeta entre outros. Atualmente, funciona um café.




Judería vieja e Judería nueva

Na Judería vieja está el Baluarte de los Pozos. Aí visitamos, também, o museu Casa Árabe. Na Judería nueva está a atual zona de comércio e turismo. A primeira fica dentro das muralhas e a segunda, fora, a partir da Plaza Mayor.

Começando a visita, que custa 2 euros

Sala de apresentações

Aljibe

parte interna, com acesso à cozinha

sala de banho

Quarto do homem, entre o quarto das suas mulheres (a principal e mais quatro) e a bodega (em nível mais alto que os demais cômodos da casa)


Jardim interno


Fuente Consejo



É considerada a mais importante de todas as fontes que existem na cidade. Sua construção foi ordenada por D. Alfonso Golfin no final do séc. XV. Está perto do Arco del Cristo, um dos acessos à cidade murada.



Bem, a cidade tem muito mais para ver. Esse foi o roteiro que escolhi fazer. Mesmo assim, caminhando pelas ruas, passei na frente de muitos outros pontos de interesse que havia lido no saite da municipalidade, fonte dessas informações aqui do post. Nós dormimos três noites no hotel AHC, que fica cerca de 1,5km da cidade e dispõe de entacionamento gratuito. A reserva foi feita pelo link que o blog possui (na coluna lateral direita, você também pode acessar e fazer a sua reserva).

No segundo dia, visitamos Trujillo e voltamos para Cáceres para terminar o que havia ficado pendente do primeiro dia de visitações. Já fui muito mais neurótica com fotos e informações, mas de um tempo para cá, foco naquilo que quero ver sem qualquer pretensão de esgotar os pontos de visitação. Ah, e às vezes até me esqueço de tirar fotos, porque estou tão imbuída da visita e do conhecimento que estou adquirindo que todo o resto fica para trás. Também aprendi a curtir a caminhada, as vistas, as comidas e tudo o mais. O blog é só um hobby e nele relato a minha experiência.

Abraços desde a Espanha.